Raramente algum profissional do setor de seguros, mesmo os mais experientes, se dispõe a ler uma apólice inteira, incluindo os endossos. Geralmente, o formulário é consultado apenas quando se busca uma resposta específica ou se está analisando um problema. Nessas situações, normalmente só é necessário revisar partes individuais da apólice e seus endossos aplicáveis para desenvolver uma resposta ou emitir uma opinião.
Seja lendo a apólice completa ou apenas trechos, é possível aplicar 12 regras específicas ao analisar o formulário, para facilitar e agilizar a obtenção de respostas corretas e precisas. Estas não são atalhos — porque, na verdade, não existem atalhos para ler um documento legal —, mas sim orientações para interpretar corretamente a apólice.
Doze Regras para Ler uma Apólice de Seguro
1. Identifique quem se qualifica como segurado. Se a pessoa ou entidade que sofreu ou causou a perda, o dano ou a lesão não for considerada segurada, não há motivo para continuar — não há cobertura.
Lembre-se de que existem quatro níveis de segurados:
2. Anote o formulário da apólice. É essencial fazer anotações: destaque as áreas modificadas por endossos anexados e anote quais endossos alteram essa seção. Ao ler e interpretar essa parte, aplique diretamente a redação do endosso correspondente.
3. Confirme se todos os formulários e endossos estão anexados. Compare os formulários e endossos listados com os documentos realmente anexados, para garantir que a apólice esteja completa. Isso inclui verificar se as datas de edição coincidem (a abrangência da cobertura pode mudar conforme a edição).
4. Leia primeiro o Objeto do Seguro. Essa é a parte mais abrangente da cobertura, então comece por aqui. Se a perda não estiver contemplada nesse trecho, não faz sentido prosseguir.
5. Leia as exclusões. Após ler o objeto de seguro, avance para as exclusões. Na maioria das apólices de responsabilidade civil e de seguros especiais (“todos os riscos”), a cobertura é considerada existente quando não está excluída. Trate as apólices de riscos nomeados diferente: leia primeiro a lista de riscos cobertos (aqueles que causam uma perda) e, em seguida, as exclusões.
6. Leia as exceções às exclusões. As exceções restituem parte da cobertura. Elas são importantes porque determinam quando uma exclusão não se aplica.
7. Quando a apólice fizer referência a outra seção, leia-a imediatamente. A apólice pode apontar para outras cláusulas que impactam diretamente a cobertura ou as condições. Nunca ignore essas referências cruzadas.
8. Preste atenção às conjunções “e” e “ou” usadas em listas. Essas palavras são tecnicamente cruciais:
Exemplo:
“O segurado deve ser proprietário e residente” – precisa ser as duas coisas. “O segurado deve ser proprietário ou residente” – basta uma das duas.
9. Preste atenção às palavras e expressões-chave. Certos termos alteram ou limitam a cobertura e devem ser destacados. Exemplos:
10. Leia e compreenda os termos definidos especificamente. Se a seguradora quiser controlar o significado de certas palavras ou expressões, ela as define explicitamente na apólice. Essas definições:
11. Verifique se todas as condições da apólice foram cumpridas. O não cumprimento de condições contratuais (como notificação de sinistro, medidas de proteção, etc.) pode resultar na negação da cobertura.
12. Confirme se os limites de cobertura são adequados à perda. Não basta que haja cobertura — o limite contratado deve ser suficiente. Além disso, limites incorretos podem ativar condições penalizadoras, como cláusulas de rateio.
Seis Razões pelas Quais as Perdas São Excluídas
O seguro foi criado como um mecanismo de proteção contra as consequências financeiras de perdas inesperadas e potencialmente catastróficas. Ao longo do tempo, os riscos cobertos pelas apólices foram sendo ajustados para refletir mudanças na frequência, gravidade e custo das exposições. Porém, o princípio original permanece: proteger a condição financeira do segurado.
Contudo, isso não significa que o segurado esteja protegido contra toda e qualquer perda financeira.
As apólices tradicionais — sejam de propriedade ou de responsabilidade civil, e tanto em seguros pessoais quanto comerciais — contêm sempre uma lista de exclusões. E há razões específicas para cada uma delas.
Três Grandes Categorias de Exclusões
Antes de entender as seis razões principais para exclusões, é necessário conhecer as três categorias principais:
Importante:
Exemplo prático:
Outro exemplo:
Exclusões de Bens (Propriedades Excluídas)
São mais diretas e evidentes:
? As Seis Razões para as Exclusões em Apólices de Seguro
Outro motivo: seleção adversa. Certas coberturas só são procuradas por quem está exposto ao risco — se poucas pessoas contratam, o prêmio aumenta, menos segurados contratam, e o ciclo se repete até inviabilizar o seguro (espiral da seleção adversa).
2. A perda ou dano é coletivamente catastrófico. Seguros são feitos para proteger contra riscos individuais, não desastres comunitários (ex: terremotos, enchentes, guerras). O custo de proteger contra esses eventos seria muito alto — e a maioria dos segurados não está disposta a pagar.
3. A perda ou dano não é acidental nem imprevisto. Um sinistro segurável deve ser: Acidental; Imprevisto; Definido no tempo e espaço; Mensurável.
Quatro subgrupos de exclusões aqui:
Isso permite personalização da apólice, sem aumentar o prêmio para quem não precisa daquela cobertura.
5. A seguradora quer controlar o valor da cobertura concedida. Exemplo: A apólice exclui “desmoronamento” como causa de perda, mas depois oferece cobertura limitada a “desmoronamentos” sob certas condições. Isso evita interpretações amplas e litígios, pois a cobertura é “retirada e depois devolvida em valor controlado”.
6. A perda resulta de um risco especulativo ou empresarial.
Risco puro: Perda ou nada – é o tipo de risco que o seguro cobre.
Risco especulativo: Pode haver perda, ganho ou nenhum efeito – não é segurável.
Exemplo: Um negócio que falha por má gestão ou má decisão — não é coberto por seguro.
? Parte 4: Existe Cobertura? – Aplicando as Regras
Existe Cobertura?
Aplicar corretamente as regras de leitura da apólice e entender os motivos para as exclusões permite que se determine de forma mais rápida e precisa se há ou não cobertura — sempre levando em conta o caso específico e as leis aplicáveis.
???? Fluxo Básico para Avaliar Cobertura de Seguro
???? Resumo Final:
A leitura correta da apólice deve sempre considerar:
Essas perguntas, aplicadas em ordem lógica, ajudam o profissional ou segurado a determinar rapidamente a existência ou não de cobertura em qualquer situação. Qualquer Apólice de Seguro (P&C)!