Como ler e compreender uma apólice de seguro (P&C)!

  • 02 de Março de 2021

Raramente algum profissional do setor de seguros, mesmo os mais experientes, se dispõe a ler uma apólice inteira, incluindo os endossos. Geralmente, o formulário é consultado apenas quando se busca uma resposta específica ou se está analisando um problema. Nessas situações, normalmente só é necessário revisar partes individuais da apólice e seus endossos aplicáveis para desenvolver uma resposta ou emitir uma opinião.

Seja lendo a apólice completa ou apenas trechos, é possível aplicar 12 regras específicas ao analisar o formulário, para facilitar e agilizar a obtenção de respostas corretas e precisas. Estas não são atalhos — porque, na verdade, não existem atalhos para ler um documento legal —, mas sim orientações para interpretar corretamente a apólice.

Doze Regras para Ler uma Apólice de Seguro

1. Identifique quem se qualifica como segurado. Se a pessoa ou entidade que sofreu ou causou a perda, o dano ou a lesão não for considerada segurada, não há motivo para continuar — não há cobertura.

Lembre-se de que existem quatro níveis de segurados:

 

  1. Segurado(s) nomeado(s);
  2. Segurados estendidos ou secundários (mesma proteção do segurado nomeado);
  3. Segurados automáticos;
  4. Segurados adicionais (incluídos por endosso).

 

2. Anote o formulário da apólice. É essencial fazer anotações: destaque as áreas modificadas por endossos anexados e anote quais endossos alteram essa seção. Ao ler e interpretar essa parte, aplique diretamente a redação do endosso correspondente.

3. Confirme se todos os formulários e endossos estão anexados. Compare os formulários e endossos listados com os documentos realmente anexados, para garantir que a apólice esteja completa. Isso inclui verificar se as datas de edição coincidem (a abrangência da cobertura pode mudar conforme a edição).

4. Leia primeiro o Objeto do Seguro. Essa é a parte mais abrangente da cobertura, então comece por aqui. Se a perda não estiver contemplada nesse trecho, não faz sentido prosseguir.

5. Leia as exclusões. Após ler o objeto de seguro, avance para as exclusões. Na maioria das apólices de responsabilidade civil e de seguros especiais (“todos os riscos”), a cobertura é considerada existente quando não está excluída. Trate as apólices de riscos nomeados diferente: leia primeiro a lista de riscos cobertos (aqueles que causam uma perda) e, em seguida, as exclusões.

6. Leia as exceções às exclusões. As exceções restituem parte da cobertura. Elas são importantes porque determinam quando uma exclusão não se aplica.

7. Quando a apólice fizer referência a outra seção, leia-a imediatamente. A apólice pode apontar para outras cláusulas que impactam diretamente a cobertura ou as condições. Nunca ignore essas referências cruzadas.

8. Preste atenção às conjunções “e” e “ou” usadas em listas. Essas palavras são tecnicamente cruciais:

 

  • “E” é inclusivo – todas as condições devem ser satisfeitas;
  • “Ou” é exclusivo – basta que uma das condições seja atendida.

 

Exemplo:

“O segurado deve ser proprietário e residente” – precisa ser as duas coisas. “O segurado deve ser proprietário ou residente” – basta uma das duas.

9. Preste atenção às palavras e expressões-chave. Certos termos alteram ou limitam a cobertura e devem ser destacados. Exemplos:

 

  • “Não” – Como em “não se aplica a…” ou “não inclui…” – isso anula o que veio antes.
  • Frases de quantidade – como “maior que”, “menor de”, “o máximo”, “não mais que” – limitam o valor pago.
  • “A menos que”, “exceto”, “somente se”, “sujeito a” – estabelecem condições ou exceções.
  • “Porém”, “no entanto” – qualificam ou limitam a cláusula anterior.
  • “Inclui” – Termo abrangente, estende a cláusula à qual se aplica.
  • “Deve” e “independentemente” – Impõem obrigatoriedade absoluta, sem considerar circunstâncias.
  • “Primeiro” – Indica ordem ou sequência de ações, o que é vital para cláusulas processuais.

 

10. Leia e compreenda os termos definidos especificamente. Se a seguradora quiser controlar o significado de certas palavras ou expressões, ela as define explicitamente na apólice. Essas definições:

 

  • Limitam ou ampliam o alcance da cobertura;
  • Palavras não definidas devem ser interpretadas com base no seu significado comum e cotidiano.

 

11. Verifique se todas as condições da apólice foram cumpridas. O não cumprimento de condições contratuais (como notificação de sinistro, medidas de proteção, etc.) pode resultar na negação da cobertura.

12. Confirme se os limites de cobertura são adequados à perda. Não basta que haja cobertura — o limite contratado deve ser suficiente. Além disso, limites incorretos podem ativar condições penalizadoras, como cláusulas de rateio.

Seis Razões pelas Quais as Perdas São Excluídas

O seguro foi criado como um mecanismo de proteção contra as consequências financeiras de perdas inesperadas e potencialmente catastróficas. Ao longo do tempo, os riscos cobertos pelas apólices foram sendo ajustados para refletir mudanças na frequência, gravidade e custo das exposições. Porém, o princípio original permanece: proteger a condição financeira do segurado.

Contudo, isso não significa que o segurado esteja protegido contra toda e qualquer perda financeira.

As apólices tradicionais — sejam de propriedade ou de responsabilidade civil, e tanto em seguros pessoais quanto comerciais — contêm sempre uma lista de exclusões. E há razões específicas para cada uma delas.

Três Grandes Categorias de Exclusões

Antes de entender as seis razões principais para exclusões, é necessário conhecer as três categorias principais:

 

  1. Perigos excluídos São as causas diretas do dano (ex: incêndio, enchente, terremoto).
  2. Riscos agravantes excluídos (hazards) São fatores que aumentam a chance de uma perda ocorrer (ex: fios desencapados aumentando risco de incêndio).
  3. Bens excluídos Referem-se a itens físicos ou intangíveis não cobertos pela apólice (ex: dinheiro, bens de terceiros sob responsabilidade do segurado).

 

Importante:

 

  • Perigos e riscos agravantes não têm o mesmo efeito para o segurado.
  • Um perigo excluído pode, muitas vezes, ser coberto por exceção, endosso ou apólice separada.
  • Um risco excluído é quase sempre absoluto e sem possibilidade de cobertura.

 

Exemplo prático:

 

  • “Movimento de terra” é um perigo excluído, mas pode ser segurado via endosso.
  • “Guerra e ação militar” é um risco excluído, sem cobertura possível.

 

Outro exemplo:

Exclusões de Bens (Propriedades Excluídas)

São mais diretas e evidentes:

 

  • Em seguros patrimoniais comerciais, roubo de valores não é automaticamente coberto;
  • Na responsabilidade civil, bens de terceiros sob responsabilidade do segurado também podem não estar cobertos, com algumas exceções.

 

? As Seis Razões para as Exclusões em Apólices de Seguro

 

  1. O perigo ou bem é melhor coberto em outra apólice. Exemplo: Roubo de Valores não é coberto em apólices de propriedade porque existe um seguro específico para isso. Danos a terceiros por automóveis são excluídos do RCG porque já há a apólice de automóvel para isso.

 

Outro motivo: seleção adversa. Certas coberturas só são procuradas por quem está exposto ao risco — se poucas pessoas contratam, o prêmio aumenta, menos segurados contratam, e o ciclo se repete até inviabilizar o seguro (espiral da seleção adversa).

2. A perda ou dano é coletivamente catastrófico. Seguros são feitos para proteger contra riscos individuais, não desastres comunitários (ex: terremotos, enchentes, guerras). O custo de proteger contra esses eventos seria muito alto — e a maioria dos segurados não está disposta a pagar.

3. A perda ou dano não é acidental nem imprevisto. Um sinistro segurável deve ser: Acidental; Imprevisto; Definido no tempo e espaço; Mensurável.

Quatro subgrupos de exclusões aqui:

 

  1. Danos intencionais: Excluídos de forma geral.
  2. Perdas inevitáveis: Como desgaste natural, deterioração, etc.
  3. Perdas controláveis pelo segurado: Ex: não realizar a manutenção do quadro de luz e ocorrer um dano elétrico.
  4. Eventos conhecidos: Se o evento já estava em andamento ou era de conhecimento do segurado antes do início da apólice, não há cobertura.4. A seguradora está disposta a cobrir, mas quer mais informações e prêmio. Algumas exclusões podem ser removidas por endosso, se o segurado fornecer: Mais dados sobre o risco; Pagamento adicional.

 

Isso permite personalização da apólice, sem aumentar o prêmio para quem não precisa daquela cobertura.

5. A seguradora quer controlar o valor da cobertura concedida. Exemplo: A apólice exclui “desmoronamento” como causa de perda, mas depois oferece cobertura limitada a “desmoronamentos” sob certas condições. Isso evita interpretações amplas e litígios, pois a cobertura é “retirada e depois devolvida em valor controlado”.

6. A perda resulta de um risco especulativo ou empresarial.

Risco puro: Perda ou nada – é o tipo de risco que o seguro cobre.

Risco especulativo: Pode haver perda, ganho ou nenhum efeito – não é segurável.

Exemplo: Um negócio que falha por má gestão ou má decisão — não é coberto por seguro.


? Parte 4: Existe Cobertura? – Aplicando as Regras

Existe Cobertura?

Aplicar corretamente as regras de leitura da apólice e entender os motivos para as exclusões permite que se determine de forma mais rápida e precisa se há ou não cobertura — sempre levando em conta o caso específico e as leis aplicáveis.

???? Fluxo Básico para Avaliar Cobertura de Seguro

 

  1. O evento ocorreu durante o período da apólice? Se não, não há cobertura.
  2. A pessoa ou entidade afetada está listada como segurada? Se não for segurado (nomeado, automático, adicional etc.), não há cobertura.
  3. O evento está contemplado no Objeto de Seguro? Se não, não há cobertura.
  4. O evento é um risco ou bem excluído? Se for, verifique se há exceções ou endossos que devolvem a cobertura.
  5. As condições da apólice foram cumpridas? (Notificação, preservação do bem, medidas preventivas etc.) Se não, pode haver negação da cobertura.
  6. O limite de cobertura é suficiente para cobrir a perda? Mesmo havendo cobertura, o valor pago pode ser inferior à perda.

 

???? Resumo Final:

A leitura correta da apólice deve sempre considerar:

 

  • Quem está coberto?
  • O quê está coberto?
  • Quando e como está coberto?
  • O que está excluído?
  • Há exceções ou endossos relevantes?
  • As condições foram respeitadas?
  • Os valores contratados são adequados?

Essas perguntas, aplicadas em ordem lógica, ajudam o profissional ou segurado a determinar rapidamente a existência ou não de cobertura em qualquer situação. Qualquer Apólice de Seguro (P&C)!