IA no setor de seguros: corretores ainda hesitam, seguradoras aceleram — qual o futuro para todos?

  • 05 de Janeiro de 2025

O atraso dos corretores frente às seguradoras

Corretores de seguros são frequentemente considerados os “retardatários lógicos” na adoção de IA, enquanto seguradoras avançam mais rapidamente. Uma das principais razões é cultural — muitos corretores ainda seguem a “velha guarda” que confia em processos tradicionais, dificultando a inovação.

Segundo dados de várias regiões, vemos esse contraste:

 

  • América do Norte lidera com 44% de participação de mercado em IA generativa no setor de seguros;
  • Europa tem 28%, Ásia-Pacífico 25%, enquanto América Latina e Oriente Médio & África somam apenas 2,4% e 0,6%, respectivamente. Isso indica que a adoção global de IA ainda é desigual — e corretores em mercados menores estão claramente mais distantes.

 

O exemplo “Spotify” da Zurich: CRM que recomenda produtos

A Zurich criou um CRM com IA que, como o Spotify, sugere o próximo melhor produto para cada cliente, com base no perfil e histórico. Esse sistema centraliza dados dos segurados, integra-se com ferramentas como Outlook e Salesforce e segue a regra dos “três cliques” — tudo que o corretor precisa em até três interações. O resultado? Redução dos tempos de prospecção de novos clientes em mais de 70%, com implementação em quatro mercados até agora. Isso transforma corretores de meros intermediários transacionais em consultores estratégicos personalizados.

Benefícios: números que falam por si

A adoção de IA pelas seguradoras está traduzindo-se em resultados concretos:

 

  • Detecção de fraudes usada por 44% das seguradoras;
  • Processamento de sinistros mais rápido em até 75%, redução de tarefas repetitivas em 27%;
  • Setor de seguros global deve economizar US$ 390 bilhões até 2030, com receitas subindo 23% e custos caindo 19%;
  • 58% das empresas de seguros já implementaram IA de alguma forma; 65% dos executivos veem IA tendo grande impacto na subscrição, e 42% usam IA em sinistros.

 

Agentic AI: colaboração, não substituição

O conceito de agentic AI — em que agentes de inteligência artificial colaboram com humanos — está ganhando tração. Relatório da Capgemini mostra que:

 

  • 20% das seguradoras já testam agentes de IA; 12% implementaram parcialmente; apenas 4% confiam totalmente nesses agentes;
  • Mesmo assim, 93% dos líderes acreditam que adotar essa tecnologia traz vantagem competitiva, estimando 65% de aumento no tempo dedicado a tarefas de alto valor e 49% de aumento na satisfação dos funcionários.

 

Guia prático para corretores iniciarem com IA

 

  • Defina objetivos claros (ex: automatizar sinistros, personalizar ofertas);
  • Identifique casos de uso imediatos com ROI rápido, como chatbots para suporte ou recomendações automáticas;
  • Inicie com projetos piloto integrados a sistemas existentes;
  • Eduque sua equipe e reúna feedback constante.

 

O setor de seguros está vivenciando uma revolução tecnológica — com seguradoras na dianteira e corretores enfrentando desafios reais para acompanhar. A analogia da Zurich com o Spotify ilustra bem como IA pode transformar a abordagem na oferta de novos produtos aos clientes já existentes e tornar o corretor um verdadeiro consultor.

Mas a mudança só acontece quando empresas pequenas implementam governança confiável e soluções práticas. A adoção de agentic AI, aliada a estratégias claras, pode equilibrar eficiência, personalização e confiança — em qualquer país, em qualquer mercado.

A resistência à Inteligência Artificial lembra outros momentos históricos em que o setor de seguros, e a economia como um todo, hesitaram diante do novo. Houve um tempo em que cálculos atuariais complexos eram vistos como “complicação desnecessária” e a análise estatística avançada parecia algo restrito a acadêmicos. Hoje, são a espinha dorsal da precificação de risco.

O mesmo roteiro se repete agora com a IA. Ainda há quem acredite que ela seja apenas uma moda ou ferramenta periférica. Mas basta olhar para setores já atravessados por essa onda:

 

  • Saúde, onde diagnósticos por imagem com IA já superam o olho humano em precisão.
  • Finanças, onde decisões de crédito e detecção de fraude são tomadas em milissegundos.
  • Transporte, onde algoritmos definem rotas, evitam acidentes e — discretamente — dirigem veículos.
  • Comércio eletrônico, onde a personalização é tão precisa que o consumidor acha que “foi coincidência”.

 

O que todos esses setores têm em comum? Primeiro resistiram, depois testaram, e por fim se tornaram dependentes — ao ponto de ser impensável voltar atrás.

No seguro, a transformação completa ainda não chegou porque o setor é, por natureza, avesso a riscos e dependente de regulamentações robustas. Mas o relógio não para. Quando a IA oferecer subscrição automática, detecção de fraude instantânea, análise de sinistros em tempo real e atendimento personalizado 24/7, o jogo estará virado.

E quando esse dia chegar — e ele chegará — ninguém mais discutirá “se” a IA deve estar no seguro. A pergunta será: como foi possível um dia operar sem ela?

 

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